Quinta-feira, 29.09.11

Vida e Obra de Bibinha Cabral

Nha Bibinha Cabral nasceu em 1900 em Trás-os-Montes, no município de Tarrafa,l na ilha de Santiago. Durante esses dias, as mulheres eram desencorajadas a frequentar a escola; Nha Bibinha não foi excepção. No entanto, desde que sua mãe não a deixava ir à escola, a vida tornou-se a sua sala de aula: a observação do seu meio ambiente, especialmente o comportamento humano e social tornou-se os temas das suas canções.
Sua formação e aprendizagem do batuco, canções tradicionais pelos anciãos como Nha Mana Kuladia, Martin Djuna, Landin Mariana, Koreia Leonarda, Ramu Davidi, Dondoninha, Barela Konpleta, Sikera Marku e Mendi Balantina estenderam essa educação. Por sua vez, com os anos se transformando em décadas, ganhou sabedoria e era uma professora de renome social, sempre procurada por aqueles que procuravam o conselho, a clareza e a solução.

Assim, entre as idades de dez a catorze anos, ela começou a aprender batuku e Finaçon, tornando-se um estudante batukadeira precoce dentro de um curto período de tempo. Nha Bibinha nunca deixou a ilha, ela tornou-se intimamente consciente e conhecedora do aspecto social da sociedade cabo-verdiana e da cultura. Embora ela fosse analfabeta e não tivesse escolaridade, possuía uma memória extraordinária e soberba, juntamente com os seus conhecimentos enraizados social e culturalmente, com destaque para as questões de género, que lhe permitiu "batuku estilo livre".

Assim, ela tornou-se famosa em toda a ilha de Santiago, apresentando-se em casamentos, festas, cerimónias de baptismo, etc.
Em 1920, ela casou-se com a idade de dezenove anos com cmté Neves Cabral - fama de ter sido, pelo menos, dezesseis anos mais velho que ela. Este, certamente, o que era comum na época porque os homens mais velhos representaram a estabilidade económica para a noiva e futura família. Seu marido era um americano, emigrante cabo-verdiano dos
Estados Unidos, que era sinónimo de riqueza e poderio. Ela teve uma vida confortável durante seu casamento. Eles tiveram um casal de propriedades em “Curral di Báxu”, Tarrafal. Nha Bibinha teve seis filhos e  uma filha.

Como  resultado do casamento, o marido a proibiu  de cantar o batuque e dançar na presença de sua mãe. Assim, a sua carreira musical em batuque e finaçon  não era contínua. Ela  ficou "aposentada" cerca de trinta e sete anos. Mais tarde, ela começou o batuque novamente. No entanto, com a velhice, a população local estava desaprovando a sua participação com outras batucadeiras porque os outros eram muito jovens. Sua idade, entretanto, concedeu apenas a reverência e o tratamento respeitoso em relação a ela dado o seu estatuto lendário  como uma anciã batucadeira.

Em 1926 seu pai morreu, em seguida, seu marido, em 1945. Dois anos mais tarde, ela perdeu suas propriedades e as crianças, mas o município do Tarrafal fez-lhe uma casa em Monte-Iria - Vila do Tarrafal. No entanto, sua irmã, Francisca da Veiga, Nha Tchicha também batucadeira, ainda estava viva. Isso lhe trouxe algum conforto. Além disso, Sr. Lela, amigo e  comerciante, lhe dava mantimentos a "crédito", até que ela podesse ter recursos para pagar.
Embora a vida tenha se tornado difícil, especialmente quando ela ficou paralisada, vibrações positivas sempre emanavam dela através do sorriso dela, o comportamento gentil, a alegria de viver e o aconselhamento às pessoas. A música era o sustento da sua vida que aliviou o seu sofrimento, a miséria e o desespero e trouxe tanta alegria para ela e para os outros. Ela se tornou notável na história da música popular tradicional, especialmente na Ilha de Santiago onde o seu nome é hoje lendário.

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Segunda-feira, 05.09.11

Nha Balila é uma figura do povo


Conhecida pela sua dinâmica, marcada por forte presença nos meios da comunicação social, a invisual Isidora Semedo Correia, popularmente conhecida por Nha Balila, tem inscrito o seu nome na nossa praça como uma figura de destaque, das mais populares da cidade da Praia. Aos 78 anos, Nha Balila conserva a sua “juventude”, entenda-se veterania, malgrado toda fadiga e sacrifícios vividos nas roças de São Tomé e Príncipe nos anos 50 e 60 do século passado.

Nascida na Serra da Malagueta (interior de Santiago), vizinhança de Principal, terra da expoente do batuco Nha Nácia Gomi, Isidora Correia Semedo não pôde fugir das influências do batuco, pelo que bem cedo seguiu as pisadas dos familiares.

Ainda criança, despertou o interesse pela prática do “finaçon e tchabeta” e, aos dez anos, revelou a sua paixão pelo batuque, ainda que a prática dessa cultura tradicional cabo-verdiana sofresse muita pressão por parte Igreja da era colonial.

A independência nacional teve um papel decisivo na continuidade de Nha Balila na arte de brincar o batuco. Foi nessa altura que formou o seu agrupamento denominado “Bali Pena (Valeu a pena), agremiação que sempre marcava presença nas tradicionais festas de despedidas de solteiros, baptizados, Páscoa e casamentos, e em diversos pontos da ilha de Santiago.

Após alguns sucessos, Bali Pena viria a terminar a sua carreira em 1991, alegadamente motivados por conflitos partidários entre os seus elementos. Razão que leva Nha Balila, ainda hoje, apelar para que a cultura esteja equidistante de qualquer força política.

Destemida e determinada, formou há cerca de dez anos um novo grupo de batuque, denominado “Artistas Portadores de Deficiência.

Bazófia que, graças à sua participação em batuques, já actuou perante multidões. Recorda, com muita emoção, a sua participação numa das edições do Festival do Gambôa, ao lado do seu grande ídolo, Norberto Tavares.

Balila define-se como uma invisual que nunca se sente isolada, já que tem marcado, de forma diversa, a sua presença na sociedade cabo-verdiana.

Retém na memória bem viva os nomes de muitos artistas cabo-verdianos e diz, com todo o orgulho, que o seu maior ídolo de sempre continua a ser o célebre compositor e mentor conjunto do Bulimundo, Carlos Alberto Martins “Catchás”, considerado o grande impulsionador do funaná orquestrado.

Mostra ainda a sua admiração pelo vocalista Zeca de Nha Reinalda, enquanto intérprete do funaná, Ildo Lobo e Cesária Évora, na qualidade de intérpretes da morna e Norberto Tavares, como o grande defensor da cultura cabo-verdiana.

Da nova geração revela uma grande paixão pelo show-man cabo-verdiano radicado na Holanda, Kino Cabral, por Princezito, embora, garanta, aprecie todos os músicos e artistas da nossa terra.

Autora de dezenas de composições, das quais de destacam “Capina Padja”, “Dentro di alguém qui é alguém”, “Minino Nobu na mom”, “Minininhas adolescentes”, Nha Balila diz que sente mais inspirada à noite, altura que aproveita para dar corpo às suas composições musicais.

Mas nem só de rosas viveu esta figura de povo nessa sua caminhada. Mãe de duas filhas e avó de muitos netos, Nha Balila teve que deixar, como muitos cabo-verdianos, o torrão natal no período colonial, mais precisamente nos anos 50 e 60, época que trabalhou como contratada nas roças de São Tomé e Príncipe.

Em 1954, pisou pela primeira vez aquelas ilhas do Equador. Anos depois regressou à casa, mas voltaria a emigrar em 63 e 66, já que, conforme confessa, “o país não tinha grandes condições económicas para alimentar os seus filhos, dadas as sucessivas calamidades, motivadas pela falta da chuva”.

Em São Tomé e Príncipe, trabalhou em quase todos os serviços agrícolas. Capinou palha nas Roças de Vaz Prazeres (freguesia de Santo Amaro), em Monte Café e na Independência Gratidão.

Recorda que a vida por estas paragens era bem dura, já que fazia trabalhos de campo. “Capinei, colhi cacau, carreguei lenhas às costas, lavei azeitonas e no final, troquei trabalhos de mato para os ofícios de senzalas”.

Lamenta que nas roças passou por sacrifícios, alegando que chegou mesmo a ser “chicoteada” e “esbofeteada pelos brancos” de então.

Depois de todas estas amarguras, foi reencaminhada para a sua terra natal pelo patrão de Monte Café, de bolso vazio, mas as roças de São Tomé e Príncipe ficam indubitavelmente ligada a vida de Nha Balila, pois foi aí que ela perdeu a vista.

“A minha cegueira surgiu na sequência de um acidente de trabalho em São Tomé e Príncipe. Enquanto capinava, o líquido de uma árvore, que se chama “malgós” – (amargo) acertou-me no olho direito e rapidamente propagou-se pelo olho esquerdo. Na sequência, perdi a minha visão. Era a minha terceira aventura pelas terras são-tomenses”, lamenta.

Sem papas na língua, queixa-se que, ainda hoje, continua a lutar pelos seus direitos, sem que haja resultados concretos.

Mulher com voz activa nas diversas estações das rádios espalhadas por estas ilhas atlânticas, Nha Balila continua a “batalhar para a consagração dos direitos da mulher”, pois não se conforma que elas continuem a serem violadas em pleno século XXI.

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Quinta-feira, 01.09.11

Breve informação sobre o grupo Batucadeiras Delta Cultura

O Grupo Delta Cultura nasceu na Cidade do Tarrafal em 2003, e era constituído por 18 elementos, sendo agora é formado por 13 membros.

 

2004: Participações em vários palcos do Concelho do Tarrafal.

 

2005: Várias actuações nos outros concelhos de Santiago.

 

2006: O grupo deu o seu primeiro espectáculo na Ilha do Maio, organizou a 1ª Edição do Festival de batuco que foi o primeiro em todo o arquipélago de Cabo Verde, com 30 grupos de Santiago, em homenagem a Bibinha Cabral, e criou um novo grupo de batuco só com Crianças “Batukinhas Fidjus di Delta Cultura".

 

2007: gravação ao vivo e video clipes que é vendido em Áustria Viena, actuações em S.Vicente e S. Antão, e organização da 2ª edição do festival de batuco com participação de 28 grupos de Ilha Santiago.

 

2008: O grupo levou o batuco aos Palcos europeus (Áustria, Alemanha) e organizou a 3ª edição do festival de batuco com 32 grupos de Ilha Santiago.

O programa das actividades Áustria, 18 de Julho a 7 de Agosto 2008 com grupo batucadeiras Delta Cultura

18.07.2008 Topkino 19 Uhr

19.07.2008 Freyung 11 Uhr

19.07.2008 MQ Innenhof 17 Uhr

21.07.2008 Obdachlosenheim Neuner Haus17 Uhr 24.07.2008‚Glatt und verkehrt’ – Weltmusikfestival in Krems (mit Tcheka) (junto com o cantor Tcheca)

25.07.2008 Afrika Tage Wien, Donauinsel 15 Uhr

26.07.2008 Festa di Kultura Cabo Verde, Halfstreet, Halbgasse 7 ab 16 Uhr

29.07.2008 Afrika Tage Wien, Donauinsel 15 Uhr - Batuku meets Jah Riddim (com grupo Jah Riddim)

30.07.2008 Afrika Tage Wien, Donauinsel 15 Uhr

30.07.2008 Cafe Concerto feat. Dj Zipflo 21 Uhr

31.07.2008 Derwisch, Club Vagabund 21 Uhr

01.08.2008 Frame Kulturcafe , Wien 20, 19 Uhr

02.08.2008 Stadtfest Neusiedl / See 15:30 Uhr

04.08.2008 Marea Alta, 21 Uhr, 05.08.2008 AQUA – Internationales Pfadfindertreffen in Oberösterreich Eröffnungsfest (encontro dos escuteiros)

 

2009:Viagem de 12 participantes do grupo para Áustria participações em vários programas da televisão, rádio, instituições, Hotéis, restaurantes, Centros Culturais, Palácio da Cultura, campanhas e sensibilizações sobre droga, álcool, HIV, protecção das tartarugas entre outros.

 

 

2010. O grupo organizou 5º edição do festival de batuco,com participação de 35 grupos de Ilha Santiago, viagem com 2 participante do grupo para Alemanha e com vários participações no evento em CV e nos paísis  estranjeiros.

publicado por festivalbatuco às 14:35 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Sexta-feira, 24.06.11

Batucadeiras Delta Cultura na festa de Nhó São Pedro

 

Hoje o  grupo Delta Cultura  vai atuar nas festividades de Nhó São Pedro em Canselo de Santa Cruz.

publicado por festivalbatuco às 11:49 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 24.05.11

BATUQUES – A ALMA DE UM POVO

 

 

 

de Júlio Silvão Tavares
Cabo Verde, 2006, 52’

Em 1462, chegaram à Ilha de Santiago os primeiros escravos, trazidos da Costa Ocidental de África, e com eles vieram os ritmos e as sementes do que veio a ser o Batuque, uma dança ritual com movimentos ritmados por cantadeiras e batucadeiras dispostas em círculo, que sincronizam e orientam o movimento da dançadeira no centro do terreiro.
O Batuque foi reprimido e proibido, considerado como manifestação de negros e analfabetos. Após a independência do País, o Batuque foi recuperado e adoptado como símbolo de identidade cultural. Hoje, com a emigração, os ritmos do Batuque voltam a viajar e a evoluir, influenciando a música que se faz noutras paragens do mundo.
Através da história do Batuque, cruzam-se histórias de culturas e costumes, de danças e magia, das raças e da escravatura, da emigração e dos direitos civis, da tristeza, solidão e dor, da morte e nascimento, da fome e fartura, e de tudo o que vem da alma.   

O Batuque oferece-nos um prisma único por onde se filtra a própria história de Cabo Verde, desde o tempo da escravatura até ao tempo presente da emigração e da globalização.

publicado por festivalbatuco às 15:44 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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